E seu “problema” for que você seja um DEMISSEXUAL e ninguém nunca te explicou sobre isso?
Muito além de vir aqui com uma polêmica, eu venho aqui com uma reflexão, baseada em fatos, evidências e adaptação emocional que influencia diretamente as questões da sexualidade e da libido.
Mas o que seria um DEMISSEXUAL, e porque falar nisso deveria captar sua leitura e atenção?
Posso começar dizendo que temos alguns espectros da sexualidade (algo como a alma da coisa).
Temos o ALOSSEXUAL que é dito o tipo mais comum na sua forma de expressar e querer sexualidade – os Alossexuais sentem atração sexual normal, e ligada simplesmente à escolha de “quero” ou “não quero” o envolvimento.
Temos o ASSEXUAL que não sente atração sexual. Esta não é uma condição perene, mas na minha experiência, circunstancial e quase sempre pós-traumática. Mas que pode durar muito tempo. Simplesmente os Assexuais não conseguem traduzir estímulos em tesão e sua libido está paralisada.
E temos o DEMISSEXUAL que só consegue sentir atração sexual quando existe um vínculo afetivo e ou intelectual. São vistos como muito românticos ou possuem uma necessidade de sapioatração que é justamente o “tesão por lamber cérebros”, inteligência – e esta conexão é essencial para transformar o tesão em ação.
Esta expressão voltou à cena depois de uma entrevista com a atriz Giovanna Ewbank que se declarou demissexual. Ela e casada com um outro ator, o Bruno Gagliasso.
O FATO é que em um sociedade tão sexual como a nossa (pelo menos nas aparências), assexualidade e demissexualidade – o tesão que precisa de conexão – precisam ser levadas mais a sério. Muitas pessoas chegavam em meu consultório nestes quase 16 anos de prática incansável se perguntando “por que não consigo sentir atração sexual no primeiro encontro?” E se sentiam problemáticas, estranhas por verem os amigos terem mais movimentos de libido sem condições. E estas pessoas não. É como se “precisassem de algo a mais”. E aquilo não estava ligado à autestima, traumas nem similares. Simplesmente elas precisavam de um certo “encantamento” além do físico.
O pior era quando tentavam transar, achando que na hora ia fluir e travavam. Homens não tinham ereção por mais que tomassem “viagra misturado com amendoim”, e mulheres não conseguiam se entregar e sequer ter orgasmo.
Sim, muitas destas pessoas eram DEMISSEXUAIS. Ou como eu publico há anos: precisam de SAPIOATRAÇÃO.
Antes de mais nada deixar claro que é importante lembrar que a demissexualidade não está envolvida com a identidade de gênero – ser homem ou mulher – e muito menos com a identidade sexual. Na maior parte, os vínculos relacionados a demissexualidade são românticos. É possível sentir atração sexual intelectualmente também. Mas, em resumo, o desejo sexual existe, a libido também – só dependem de uma ligação maior. E isso não é assexualidade.
A assexualidade é uma orientação sexual cada vez mais comum dentro do espectro gigantesco do que é sexualidade. A pessoa que se identifica como assexual tem um rompimento com a ação e reação dos estímulos do tesão e da libido. Dizer que é uma doença também não é o caminho, pois a condição de patologizar algo “requer sofrimento por ser ou estar assim.”
Os Demissexuais, até inconscientemente estão em busca da sintonia perfeita onde o SEXO é consequência, e não, início. São pessoas que procuram, antes do ato sexual, embora sintam muito tesão… saber mais sobre o outro e criar um vínculo para então chegar aos “finalmentes”
São anti encontros casuais: o que eles querem é sentir a conexão e o sentimento de admiração, para então se entregarem.
Já para os alossexuais (os ditos “normais”), esperar até que se forme uma conexão mais profunda para ter sexo é mais uma questão de preferência e menos de necessidade para que se desenvolva o desejo sexual.
De onde veio isso? O termo demissexual é um neologismo advindo de demi- do francês, que significa metade ou parte. A origem do termo como designação de sexualidade é datada de fevereiro de 2006, quando sonofzeal nos fóruns da Asexuality Visibility and Education Network descreveu sua experiência de não ser sexualmente atraído por pessoas sem antes formar uma conexão emocional, assim ele não se sentia nem assexual nem alossexual e por isso criou o termo para descrever com mais precisão a necessidade de um vínculo emocional como pré-requisito para a atração sexual, que veio a ser classificada como atração secundária.
Um exemplo apenas ilustrativo seria:
Digamos que você está em um local seguro, como em um hotel à beira da praia e foi viajar sozinho (a) e está disponível afetivamente. E então chega uma pessoa bonita, atraente, hospedada no mesmo hotel, também disponível, de boa índole e senta ao seu lado na areia da praia. Ela demonstra logo de cara que quer sexo com muita simpatia e humor. Que quer te devorar. E diz: “eu te quero agora, vamos?”.
O Alossexual se sente excitado de cara e provavelmente levanta e vai aos “finalmentes” diante das emoções, sem maiores problemas. Tipo: “no seu quarto ou no meu?”.
O Assexual não se sente nem conectado nem excitado. Aquilo não faz a menor diferença. E ele dispensa a pessoa. E vai contemplar seu dia sem nenhuma vibração libidinosa.
O Demissexual sente atração, um tesão inicial… mas não consegue dizer um “sim”. E provavelmente puxa uma conversa, mais detalhes e convida a pessoa para um jantar mais tarde, enquanto percebe se há fatores de conexão românticos ou intelectuais que gerem a admiração para depois, o tesão de devorar.